quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O PRESENTE DE ARROZ

Recebi um saco de palha contendo quatro arrobas de arroz e um outro contendo taros de amido e um cesto de plantas fluviais, os quais tão bondosamente o senhor enviou-me através dos serviços de seus serventes.

O homem tem duas espécies de tesouros: a roupa e o alimento. Um sutra diz: "Todos os seres sensíveis vivem de alimento." O homem depende de alimento e roupa para sobreviver neste mundo. Para o peixe, a água é o maior tesouro e para a as árvores, o solo no qual crescem. A própria vida, contudo, é o mais alto e mais precioso de todos os tesouros do universo. Mesmo os tesouros do universo inteiro não podem se igualar ao valor de uma única vida humana. A vida é como uma chama, e o alimento como o óleo que lhe permite queimar. Quando o óleo acaba, a luz se apagará, e quando o alimento acaba, a vida morrerá.
As pessoas colocam a palavra 'Nam' diante do nome das divindades e Budas que adoram. Mas, qual é o significado de 'Nam'? Este termo deriva-se do sânscrito, e significa devotar a sua vida. Fundamentalmente significa oferecer a nossa vida ao Buda. Um indivíduo pode ou não ter uma esposa, filhos, súditos, feudos, ouro, prata ou outros tesouros de acordo com a sua sorte. Todavia, tenha ou não fortuna, nenhum tesouro é mais precioso do que a vida. É por isso que os santos e sábios dos antigos tempos ofereceram suas vidas ao Buda, e foram eles próprios capazes de alcançar o Estado de Buda.

Sessen-Doji ofereceu seu corpo a um demônio e por sua vez recebeu um ensino composto de oito caracteres. O Bodhisattva Yakuo, não tendo óleo, queimou o seu próprio cotovelo como um oferecimento ao Sutra de Lótus. Em nosso país, o Príncipe Shotoku rasgou a pele de sua mão para escrever o Sutra de Lótus, e o Imperador Tenti queimou seu terceiro dedo como um oferecimento ao Buda Sakyamuni. Tais austeras práticas são para os santos e sábios, mas não para as pessoas comuns.

Mesmo os mortais comuns, todavia, podem alcançar o Estado de Buda se fizerem de um ponto uma parte inseparável de suas vidas - um puro espírito de procura. Em seu mais profundo sentido, um espírito de procura é o desejo de compreender e viver o significado dentro das palavras dos sutras. O que é viver os ensinos essenciais do sutra? Em um sentido, é oferecer a sua única roupa ao Sutra de Lótus, um ato equivalente a arrancar a sua própria pele. Num tempo de fome, oferecer ao Buda a única tigela de arroz do qual depende a sua vida é dedicar a sua vida ao Buda. Os benefícios de tais dedicações são tão grandes quanto os que o Bodhisattva Yakuo recebeu queimando o seu próprio cotovelo, ou Sessen Doji oferecendo a sua carne a um demônio.

Os santos, portanto, consagraram-se pelo oferecimento de seus próprios corpos, enquanto os mortais comuns podem se consagrar pela sinceridade com que doam. O preceito de doação exposto no sétimo volume do Maka Shikan é, em efeito, um ensino de consagração espiritual.

O verdadeiro caminho da vida está neste mundo. O Sutra Konkomyo diz: "Ter um profundo conhecimento da vida neste mundo é o próprio Budismo". O Sutra do Nirvana diz: "Todas as escrituras ou ensinos, de qualquer fonte que seja, são a revelação última da verdade budista."

Em contraste, o sexto volume do Sutra de Lótus diz: "Nenhum assunto da vida ou do trabalho neste mundo é de alguma forma diferente da Verdade da Vida." Comparando o significado subjacente destas citações, Miao-lo ensinou que os dois primeiros sutras citados acima são profundos, mas não tão profundos quantro o Sutra de Lótus. Enquanto eles focalizam relacionando os assuntos seculares ao Budismo, o Sutra de Lótus revela o Budismo em sua toitalidade como sendo o máximo deste e neste mundo.
Os sutras que vieram antes do Sutra de Lótus ensinaram que todos os fenômenos derivam da mente da pessoa. A mente é assemelhada à terra e os fenômenos universais às plantas que crescem na terra. No Sutra de Lótus, contudo, é ensinado que a mente é una com a terra e a terra é una com suas plantas. Os sutras provisórios explanam que uma pura mente é como a luz e um coração inocente como as flores, mas o Sutra de Lótus afirma que os corações e as mentes das pessoas são eles próprios as flores e a lua.

Disto é óbvio que o arroz não é merameente arroz, mas que é a própria vida.

Por ter recusado o luxo oferecido pelas autoridades, estes não me ouviram e assim, retirei-me à floresta para viver uma vida humilde. Não sou senão um homem e julgo ser difícil suportar o frio do inverno ou o calor do verão. Também não tenho o suficiente para comer. Não poderei nunca igualar o feito do homem que disse ter andado 1.000 milhas com uma única refeição, ou o de Confúcio e de seu neto que tiveram somente nove refeições em uma centena de dias. Sem alimento, não poderei continuar por muito tempo a recitar o sutra ou a concentrar-me na meditação.

Assim, seus oferecimentos ocasionais são mais do que meros presentes. Talvez o próprio Lorde Buda aconselhou-o a cuidar de mim, ou pode ser que o seu carma formado no passado o tenha incitado a fazer assim. É impossível expressar tudo o que desejaria dizer nesta carta.

NITIREN.


FUNDO DE CENA

Nitiren Daishonin escreveu este Gosho após receber um presente de provisões durante sua estada no recesso do Monte Minobu, um lugar onde lhe faltava alimento, roupas e outras necessidades. O original desta carta está preservado no Templo Principal Taissekiji, mas pouco é conhecido a respeito de seus antecedentes. Nem está indicada a data da sua escrita ou o nome do seu recebedor.

No mundo religioso da época, os oferecimentos aos bonzos eram encarados como corretos; contudo, não havia nenhum costume estabelecido em retribuir cada presente. Contudo, como consta em muitos Goshos, Daishonin nunca deixou de lhes responder com grande sinceridade e de usar da oportunidade para dar valiosos encorajamentos na fé.

Neste Gosho, os valores dos bens materiais estão relacionados, se mantém ou não a vida. As pessoas procuram muitos outros tesouros como dinheiro, fama ou poder, mas o alimento é ainda o mais indispensável para a sobrevivência do homem. Daishonin afirma: "O arroz não é meramente arroz, mas é a própria vida". O homem apega-se tenazmente a qualquer coisa que tenha, e o mais forte de todos os desejos é o seu apego à vida. Uma ligação dá origem aos sofrimentos humanos quando quer que o objeto de ligação seja perdido. Vivendo uma vida de devoção ao Budismo pode-se romper as ligações errôneas e libertar-se dos estados inferiores da vida, inclusive do inferno, Fome, Animalidade e Ira. Todos estes estados são dominados pelo impulso e desejo. Devotar uma vida ao Budismo é o modo de criar uma grande boa sorte, vencer o mal na sua vida e dirigir-se à iluminação. O Budismo Hinayana ensinou que os desejos e ligações foram as causas primárias dos sofrimentos humanos, e que pelas suas extinções podia-se entrar no Nirvana. Em contraste, o Budismo Mahayana desperta as pessoas à suprema realidade da vida e mostra que pela sua devoção pode-se alcançar condições de vida superiores, alcançando finalmente a iluminação. Neste Gosho, Nitiren Daishonin revelou o caminho para a iluminação enfatizando o verdadeiro espírito de doação : "Os mortais comuns podem se consagrar pela sinceridade com que doam." Oferecer a nossa vida ao Buda é dedicar todo o nosso ser à fé no Gohonzon e à causa do Kossen-rufu.

Um comentário:

  1. Muito bom esse Gosho, embora eu já conhecesse, mas é muito bom sempre estarmos relendo para que possamos nos aprimorar mais e mais.

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