segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A Recitação dos Capítulos Hoben e Juryo

- (Gassui Gosho, pág. 1199 a 1203)

Na carta que me enviou pelo mensageiro, a senhora diz que costumava recitar um capítulo do Sutra de Lótus por dia, completando a totalidade do sutra no espaço de vinte e oito dias, mas que agora lê somente o capítulo Yakuo uma vez a cada dia. A senhora pergunta (se isto é satisfatório, ou) se deveria retornar à sua prática anterior de ler todos os capítulos revezadamente.
No caso do Sutra de Lótus, pode-se recitar o sutra inteiro, de vinte e oito capítulos em oito volumes, todos os dias ou pode-se recitar apenas um volume, ou um capítulo, ou um verso, ou uma frase, ou uma palavra; ou pode-se recitar simplesmente o Daimoku, Nam-myoho-rengue-kyo, somente uma vez por dia, ou recitá-lo uma vez no curso de sua existência; ou ouvir outra pessoa recitá-lo e alegrar-se ao escutá-lo, e assim sucessivamente até o quinquagésimo grau de distância do indivíduo inicial que primeiro recitou o Daimoku.
Nesse caso, sem dúvida, o espírito de fé se tornaria fraco e o sentimento de alegria muito atenuado, como as noções vagas que podem ocorrer à mente de uma criança de dois anos, ou como a mentalidade de uma vaca ou de um cavalo, incapaz de distinguir o antes do depois. E, no entanto, os benefícios obtidos por tal pessoa são cem, mil, dez mil, cem mil vezes maiores do que os conseguidos pelas pessoas de excelente habilidade inata e sabedoria superior que estudam outros sutras: pessoas como Shariputra, Maudgalyayana, Monju e Miroku, que memorizaram a totalidade dos textos dos vários sutras.
O próprio Sutra de Lótus nos diz isso, e a mesma opinião é expressa nos sessenta volumes do comentário de Tientai e Miao-lo. Assim, o sutra afirma (com respeito a esses benefícios): “Mesmo que a quantidade deles fosse medida com a sabedoria do Buda, o limite deles não poderia ser encontrado. Nem mesmo a sabedoria do Buda consegue sondar os benefícios que tal pessoa obterá. A sabedoria de Buda é tão maravilhosa que consegue saber até o número de gotas de chuva que caem em nosso sistema de mundo principal durante um período de sete dias ou duas vezes sete dias. E também lemos que os benefícios adquiridos por aquele que recita não mais que uma simples palavra do Sutra de Lótus são a única e exclusiva coisa que a mesma não pode penetrar. Como, então, poderiam pessoas comuns como nós, que cometeram tantas ofensas graves, ser capazes de entender tais benefícios ?
Por mais imensos que possam ser esses benefícios, agora já se passaram cerca de dois mil e duzentos anos desde a morte do Buda. Durante muitos anos as cinco impurezas floresceram, e atos bons de qualquer natureza são deveras raros. Agora, mesmo que uma pessoa possa fazer o bem, no curso da realização de um único ato bom, ela acumula dez atos maus, de modo que no final, em prol de um pequeno bem, ela comete um grande mal. E, no entanto, em seu coração, orgulha-se de ter praticado um ‘grande bem’ – assim são os tempos em que vivemos.
Além disso, a senhora nasceu na remota terra do Japão, um minúsculo país insular no leste separado por duzentos mil ri de montanhas e mares do país onde nasceu o Buda.
É também uma mulher oprimida pelos cinco obstáculos e subordinada às obediências. Quão incrivelmente maravilhoso é, portanto, o fato de, apesar desses impedimentos, a senhora ter sido capaz de abraçar a fé no Sutra de Lótus !
Até mesmo os sábios ou os eruditos, tais como aqueles que estudaram atentamente todos os ensinos sagrados propostos pelo Buda no decorrer de sua existência e que dominaram tanto as doutrinas exotéricas quanto as esotéricas, estão atualmente abandonando o Sutra de Lótus e, no lugar deste, estão recitando o Nembutsu. Que bom carma a senhora deve ter formado no passado, então, para ter nascido como uma pessoa que pode recitar mesmo que um verso ou frase do Sutra de Lótus !
Quando li a sua carta , senti como se meus olhos estivessem fitando algo mais raro que a flor udumbara, algo ainda menos frequente do que a tartaruga de um olho só encontrar um tronco flutuante com uma cavidade para comportá-la com exatidão.
Comovido à admiração sincera, achei que gostaria de acrescentar apenas uma palavra ou uma expressão de meu próprio júbilo, empenhando-me dessa maneira para realçar o seu mérito. Temo, contudo, que assim como as nuvens obscurecem a lua ou como a poeira empana um espelho, muitas tentativas de descrição breves e desajeitadas sirvam somente para encobrir e ofuscar os benefícios incomparavelmente maravilhosos que receberá, e o pensamento me aflige. Contudo, em resposta à sua pergunta, dificilmente eu poderia permanecer em silêncio.
Por favor, entenda que estou meramente juntando à minha gota aos rios e oceanos ou acrescentadno minha vela ao sol e à lua, esperando, desse modo, aumentar mesmo que um pouco o volume de água ou o brilho da luz.
Em primeiro lugar, com relação ao Sutra de Lótus, não obstante a pessoa recite todos os oito volumes, ou apenas um volume, um capítulo, um verso, uma frase, ou simplesmente o daimoku ou o título, a senhora deve entender que os benefícios resultantes são, em todos os casos, os mesmos. Isso é como a água do grande oceano – uma única gota contém água de todos os inúmeros córregos e rios, ou como a jóia de concessão de desejos que, apesar de ser uma única jóia, pode fazer chover todos os tipos de tesouro sobre o formulador do desejo. E o mesmo se confirma para cem, mil, dez mil ou cem mil dessas gotas d’água ou dessas jóias. Um simples ideograma do Sutra de Lótus é como essa gota d’água ou essa jóia, e todos os cem milhões de caracteres do Sutra de Lótus são como as cem milhões dessas gotas ou jóias.
Por outro lado, um simples ideograma dos outros sutras, ou o nome de qualquer um dos vários Budas, é como uma gota d’água de algum córrego ou rio em particular, ou como apenas uma pedra de uma montanha em particular, ou um mar em particular. Tal gota não contém a água de inúmeros córregos e rios e tal pedra não possui as virtudes inerentes a inumeráveis outros tipos de pedras.
Portanto, com relação ao Sutra de Lótus, é louvável recitar qualquer capítulo no qual tenha depositado a sua confiança, não obstante qual seja.
Falando de modo geral, entre todos os ensinos do Thatagata, nunca foi constatado que algum tivesse palavras falsas. No entanto, quando ponderamos mais profundamente sobre os ensinos budistas, verificamos que mesmo entre os ditos dourados do Thatagata existem várias categorias, tais como o Mahayana e o Hinayana, os ensinos provisórios e os verdadeiros, as doutrinas esotérica e exotéricas. Essas distinções originam-se dos próprios sutras e, de acordo com isso, observamos que estas estão toscamente delineadas nos comentários dos vários eruditos e mestres.
Exprimindo a essência do assunto, entre as doutrinas propostas pelo Buda Sakyamuni nos cinquenta anos ou mais de sua vida de doutrinamento, aquelas apresentadas nos primeiros quarenta anos ou tantos são de natureza questionável. Podemos afirmar isso porque o próprio Buda claramente declarou no Sutra Muryogui: “Nesses mais de quarenta anos, ainda não revelei a verdade”. E, no Sutra de Lótus, o próprio Buda proclama com respeito a cada uma das palavras e frases do mesmo: “Descartando-me honestamente dos ensinos provisórios, exporei somente o Caminho Supremo”.
Além disso, o buda Taho surgiu das profundezas da terra para acrescentar o seu testemunho, pronunciando: “O Sutra de Lótus…Tudo que o senhor (Buda Sakyamuni) expôs é a verdade”. E todos os Budas das dez direções reuniram-se na assembléia onde o sutra estava sendo pregado e estenderam suas línguas para oferecer maior suporte à asserção de que dentro do Sutra de Lótus não há uma única palavra que seja falsa. Foi como se um grande rei, sua consorte e seus súditos mais veneráveis tivessem, todos, em unanimidade, prestado sua promessa.
Suponha que um homem ou uma mulher que recite mesmo que uma simples palavra do Sutra de Lótus esteja destinado a cair nos maus caminhos por ter cometido os dez maus atos, os cinco pecados cardeais, as quatro ofensas maiores ou incontáveis outros delitos graves. Mesmo que o Sol e a Lua nunca mais emergissem do leste, mesmo que a própria grande terra tombasse, ainda que as marés do grande oceano parassem de ter fluxo e refluxo, ainda que uma pedra quebrada pudesse ser totalmente recomposta, ou que as águas dos córregos e rios cessassem de fluir ao oceano, nenhuma mulher que tenha colocado sua fé no Sutra de Lótus jamais seria arrastada aos maus caminhos como resultado de ofensas mundanas.
Se uma mulher que deposita sua fé no Sutra de Lótus algum dia caísse nos maus caminhos em causa de excessiva cobiça, então, o Buda Sakyamuni, o Buda Taho e os Budas das dez direções imediatamente seriam culpados de quebrarem o voto que têm sustentado durante a extensão de incontáveis kalpas de nunca dizerem uma mentira. A ofensa deles seria ainda maior do que as desvairadas falsidades e logros de Devadatta ou as ultrajantes mentiras ditas por Kokalika. Porém, como seria possível tal coisa algum dia acontecer ? Desse modo, uma pessoa que abraça o Sutra de Lótus está totalmente garantida desses benefícios.
Por outro lado, mesmo que a pessoa não cometa um único ato mau em toda a sua existência, e em vez disso observe os cinco preceitos, os oito preceitos, os dez preceitos, os dez bons preceitos, os duzentos e cinquenta preceitos, os quinhentos preceitos ou um número incontável de preceitos; ainda que possa aprender todos os sutras de memória, faça oferecimentos a todos os outros Budas e Bodhisattvas e acumule mérito imensurável, se, no entanto, falhar em colocar sua fé no mesmo, mas considerar que este se encontra no mesmo nível que os outros sutras e ensinos dos outros Budas; ou se reconhecer a sua superioridade, mas se dedicar constantemente a outras disciplinas religiosas, praticando o Sutra de Lótus somente de tempos em tempos; ou se ela associar, em termos amistosos, a sacerdotes da Nembutsu, que não acreditam no Sutra de Lótus e ao mesmo tempo caluniam a Lei; ou se pensar que aqueles que insistem que o Sutra de Lótus não se adequa à capacidade das pessoas na era posterior não são culpados de nenhuma falta, então, todo o mérito de incontáveis aos bons que realizou durante o curso de uma vida, subitamente desvanecerá. Além disso, os benefícios resultantes de sua prática do Sutra de Lótus ficará, por algum tempo, obscurecido, e ela cairá na grande cidadela do inferno Aviti tão certamente quando a chuva cai do céu ou as rochas ruem dos picos aos vales.
Entretanto, mesmo que a pessoa possa ter cometido os dez maus atos ou os cinco pecados cardeais, contanto que não vire suas costas ao Sutra de Lótus, sem dúvida, renascerá na Terra Pura e atingirá o estado de Buda em sua próxima existência. Por outro lado, lemos no sutra que mesmo uma pessoa que observa os preceitos, abraça todos os outros Sutras e acredita nos vários Budas e Bodhisattvas, se falha em ter fé no Sutra de Lótus, seguramente cairá nos maus caminhos.
Embora minha capacidade seja limitada, quando observo a situação no mundo atual parece-me que a grande maioria tanto dos crentes leigos como do clero é culpada de caluniar a Lei.
Porém, voltando à sua questão: conforme eu disse antes, embora nenhum capítulo do Sutra de Lótus seja desprezível, entre todos os vinte e oito capítulos, o capítulo Hoben e o capítulo Juryo são particularmente importantes. Os capítulos restantes são todos, de certo modo, os ramos e folhas desses dois capítulos. Portanto, para a sua recitação regular, eu recomendo que pratique a leitura das partes em prosa dos capítulos Hoben e Juryo. Além disso, seria apropriado se escrevesse cópias separadas dessas partes.
Os vinte e seis capítulos restantes são como a sombra que acompanha uma forma ou o valor inerente em uma jóia. Se recitar os capítulos Juryo e Hoben, então os capítulos remanescentes naturalmente estarão incluídos mesmo que não os recite. É verdade que os capítulos Yakuo e Devadatta tratam especificamente da consecução do estado de Buda ou do renascimento na Terra Pura por parte das mulheres. Porém, o capítulo Devadatta é um ramo e folha do capítulo Hoben, e o capítulo Yakuo é um ramo e folha dos capítulos Hoben e Juryo. Portanto, deve recitar regularmente esses dois capítulos, o Hoben e o Juryo. Quanto aos demais a senhora pode realizá-los de tempos em tempos quando tiver um momento de lazer.
Além disso, em sua carta a senhora diz que diversas vezes por dia curva-se em reverência aos sete caracteres do Daimoku, e que todos os dias repete as palavras Namu-itijo-myoden dez mil vezes. Contudo, nos períodos menstruais abstém-se de ler o Sutra. A senhora pergunta se é aceitável recitar o Daimoku e o Namu-itijo-myoden (estar diante do objeto de adoração) em tais ocasiões. Também indaga se deve abster-se de ler o sutra durante o seu período menstrual ou, caso contrário, quantos dias após o final de seu período deve esperar antes de retornar a recitação do sutra. Esse é um assunto que preocupa todas as mulheres e a respeito do qual sempre inquirem.
Em épocas passadas também encontramos muitas pessoas dirigindo-se a essa questão referente às mulheres. Entretanto como os ensinos sagrados propostos pelo Buda no curso de sua existência não tocam nesse ponto, ninguém conseguiu oferecer uma prova escritural clara na qual se possa basear uma resposta. Em meu próprio estudo dos ensinos de certos atos sexuais ou o consumo de carne ou vinho ou os cinco alimentos picantes em dias específicos do mês, jamais me deparei com qualquer passagem nos sutras ou tratados que fale de impedimentos ligados à menstruação.
Enquanto o Buda encontrava-se no mundo, muitas mulheres na aurora de suas vidas tornaram-se freiras e devotaram-se à Lei Budista, mas elas nunca foram evitadas por causa de seu período menstrual. A julgar a partir disso, eu diria que a menstruação não representa nenhum tipo de impureza proveniente de uma causa externa. É simplesmente uma característica do sexo feminino,um fenômeno relacionado com a perpetuação da semente do nascimento e morte. Ou, num outro sentido, poderia ser considerada como um tipo de doença cronicamente periódica. No caso das fezes e da urina, embora essas seja substâncias produzidas pelo corpo, contanto que a pessoa siga hábitos de higiene, não há proibições especiais relativas às mesmas a serem observadas. Com certeza, o mesmo deve valer com referência a menstruação. É por isso que, penso, não ouvimos falar de regras específicas quanto a impedimentos pertinentes ao assunto, na Índia ou China.
O Japão, contudo, é a terra dos deuses. E é próprio desse país o fato de, apesar de os Budas e Bodhisattvas teresm se manifestado aqui na forma de deuses, esses deuses, por mais estranho que pareça, não se adequam aos sutras e tratados. Entretanto, se alguém vai contra os mesmos, é provável que atraia punição real.
Quando averiguamos minuciosamente os sutras e tratados, constatamos que há uma doutrina chamada preceito zuiho bini, que corresponde a esses casos. O ponto principal desse preceito é que, contanto que não envolva nenhum ato seriamente ofensivo, mesmo que a pessoa se aparte dos ensinos num pequeno grau, deve evitar de ir contra os modos e costumes do país. Esse é um preceito exposto pelo Buda. Porém, parece que alguns homens sábios, não conscientes desse fato, clamam que como os deuses são seres semelhantes a demônios, são indignos de reverência. E, através de insistirem na correção de suas idéias, parece que eles imprimem danos na fé de muitos crentes.
Se agirmos conforme este preceito de zuiho bini, então, uma vez que os deuses do Japão em muitos casos desejaram que fossem observadas proibições referentes ao período de menstruação, as pessoas nascidas nesse país provavelmente fariam bem em estar conscientes dessas proibições e honrá-las.
Contudo, não acho que tais proibições devam interferir nas devoções religiosas diárias de uma mulher. Eu presumiria que, para começar, são pessoas que nunca tiveram fé alguma no Sutra de Lótus que lhe dizem o contrário. Elas estão tentando achar algum modo para fazê-la parar de recitar o Sutra, mas acham-se incapazes de apontar isto diretamente e aconselhá-la a deixar o sutra de lado. Assim, usam o pretexto da impureza corporal para tentarem distanciá-la do mesmo. Elas a intimidam afirmando que, se continuar com suas devoções regulares durante o período de mácula, estará tratando o Sutra com desrespeito. Dessa maneira, pretendem persuadí-la a cometer uma falta.
Espero que mantenha em mente tudo o que eu disse sobre esse assunto. Com base nisso, mesmo que seu período menstrual demore sete dias, caso se sinta muito indisposta abstenha-se da leitura do sutra e recite simplesmente o Nam-myoho-rengue-kyo.
Além disso, quando realizar suas devoções, não precisa curvar-se na frente do sutra.
Se inesperadamente sentir aproximar-se da morte, então, mesmo que estivesse comendo peixe ou ave, se pudesse ler o sutra, a senhora o faria e, igualmente, recitaria o nam-myoho-rengue-kyo. Nem é preciso dizer que o mesmo princípio se aplica durante o seu período menstrual.
Recitar as palavras namu-itijo-myoden equivale à mesma coisa. Porém, é melhor que recite apenas o nam-myoho-rengue-kyo, como o bodhisattva Vasubandhu e o grande mestre Tientai o fizeram. Há razões específicas pelas quais eu digo isto.

Respeitosamente,
Nitiren
Em 17 de abril de 1264

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta em 1264, enquanto morava em Kamakura, para a esposa de Hiki Daigaku Saburo Yoshimoto. Ele havia estudado o confucionismo na capital imperial de Quioto e servido ao imperador aposentado Juntoku. Posteriormente, dirigiu-se a Kamakura onde foi empregado pelo governo militar como um erudito confuciano. Acredita-se que tenha se tornado seguidor de Nitiren Daishonin por volta de 1260. Segundo a tradição, ele decidiu abraçar o ensino de Nitiren Daishonin ao ler um rascunho do Rissho Ankoku Ron (A Pacificação da Terra Através do Estabelecimento do Verdadeiro Budismo). Tanto ele como sua esposa foram praticantes fervorosos. Evidentemente, a esposa de Yoshimoto havia enviado uma carta a Nitiren Daishonin fazendo perguntas específicas a respeito das formalidades a serem observadas na adoração do Sutra de Lótus. Esse gosho é a resposta de Nitiren Daishonin.
A primeira pergunta dela foi: Que capítulo do Sutra de Lótus devem ser recitados na prática diária ? Em resposta, na primeira parte do gosho, Nitiren Daishonin explana que o Sutra de Lótus é o auge dos ensinos expostos pelo Buda em sua existência, e é a verdade atestada por todos os Budas do universo. Assim como o oceano contém as águas de todos os rios e córregos, o Sutra de Lótus encerra dentro de si os benefícios de todos os outros ensinos. Deste modo, num sentido amplo, recitar qualquer parte do mesmo é um ato digno de máximo louvor e criará um mérito que se encontra além da imaginação. Entretanto, entre todos os vinte e oito capítulos, os capítulos Hoben (segundo) e Juryo (décimo-sexto) são especialmente vitais. Esses capítulos são como a raiz e os outros são como as folhas e ramos. Portanto, quando se recita os capítulos Hoben e Juryo, todos os outros estão, na realidade, inclusos. Essa passagem em particular, de onde se deriva o nome do Gosho, é uma evidência de que Nitiren Daishonin logo nos primórdios estabeleceu a recitação dos capítulos Hoben e Juryo como a forma básica da prática diária apoiando a entoação do daimoku.
A segunda pergutna da esposa de Yorimoto referia-se a que proibições em especial ela deveria observar ao realizar o gongyo durante seu período menstrual. Por esta razão, essa carta algumas vezes é denominada ‘Gosho sobre a Menstruação’.
Tanto a pergunta em si como a explicação de Nitiren Daishonin devem ser compreendidas dentro de seu contexto histórico. O xintoísmo (caminho dos deuses), a religião oficial japonesa, enfatiza fortemente a manutenção da pureza do ritual e havia estabelecido um grande número de impedimentos ou tabus para prevenir incorrer em máculas. Morte, doença, ferimentos, parto, menstruação, etc, eram considerados fontes de contaminação, e uma pessoa em contato com qualquer uma dessas fontes de contaminação era solicitada a passar por um ritual de purificação antes de se dedicar às atividades de adoração. As mulheres, consequentemente, era proibidas de tomar parte em práticas religiosas durante o seu período menstrual. Esses tabus estavam profundamente enraizados na consciência popular e continuavam a ser respeitados muito tempo após a introdução do budismo, sendo frequentemente misturados com práticas budistas ao ponto de poucas pessoas terem conhecimento de sua origem não-budista. Por exemplo, era parcialmente pela preocupação de evitar a impureza que as mulheres eram muitas vezes proibidas de entrar nos recintos dos monastérios budistas.
Em resposta à pergunta da esposa de Yoshimoto, Nitiren Daishonin primeiro afirma que nenhum dos sutras menciona tabus referentes à menstruação. Dessa forma, ele esclarece que nada relativo à pureza do ritual ou à prevenção se deriva do budismo. Da perspectiva budista, explica Nitiren Daishonin, não há motivo para se considerar a menstruação impura, trata-se simplesmente de uma função natural do corpo.
Todavia, ele prosseguiu, o costume de se obseravr tais proibições e tabus estava firmemente estabelecida na sociedade japonesa, e a pessoa não deve rejeitar categoricamente costumes e observâncias sociais simplesmente porque não têm relação com o budismo. Neste sentido, ele cita os princípios de zuiho bini – o preceito para se seguir os costumes da localidade – que declara que, mesmo que a pessoa possa se desviar, em detalhes menores, do ensino budista, ela deve evitar violar desnecessariamente as regras da sociedade. Tal flexibilidade é característica do budismo, que se preocupa em capacitar as pessoas a despertarem para a verdade fundamental de todas as coisas, e não em governar os detalhes de suas vidas. Assim, em sua propagação, o budismo habilidosamente adaptou seus aspectos periféricos ao tempo e lugar, abarcando costumes locais, mantendo, ao mesmo tempo, sua mensagem essencial intacta.
No entanto, embora detalhes menores do budismo possam adaptados à sociedade, certos pontos básicos não devem ser comprometidos. Nitiren Daishonin, portanto, diz à esposa de Yoshimoto que, ao honrar as convenções sociais – nesse caso, obedecer às proibições – ela não as deve cumprir cegamente a ponto de interferir em sua prática budista diária. A recitação do sutra e a entoação daimoku constituem as práticas mais fundamentais para um praticante do ensino de Nitiren Daishonin e devem ser cumpridas fielmente.


As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos

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